Saturday, May 29, 2004

A última onda

1991, dezembro; fazia calor e o éter estava impregnado de expectativas, afinal se aproximavam as festividades tão esperadas por muitos. Dois ventiladores ditavam o ritmo de meus sonhos.... 3:00 AM. Acordo assustado, olho fixo para a parede, procurando projetar a última imagem que me arremessara à consciência, e que jamais seria esquecida.
O sonho começara em uma praia, quase deserta, não fosse a presença de pequenas casas, que pareciam fazer parte do cenário natural que os milênios esculpiram com areia, sol e mar. Na beira da praia, o primeiro fato curioso: eu não era um expectador como na grande maioria dos sonhos. Eu me via. Minhas mãos, meus pés na areia....
Juntava na areia molhada, fragmentos brilhantes que nunca antes tinha visto, quando de repente notei que o mar estava recuando muito... E rápido, expondo primeiro, os buracos formados pelas ondas mais próximas à praia, depois, mesmo no sonho, achei incrível, pois o mar já recuara uns três quilômetros, e quando achei que tudo ali viraria um deserto, surgiu no horizonte, uma muralha de cor negra, transparente ou translúcida, e em segundos eu já sabia que era uma onda... 70 ou 80 metros, não menos, trazia consigo restos de civilizações. Barcos, casas, carros ,corpos...
E vinha em direção à praia. Não sei porque, no mesmo instante eu tive a certeza que de nada adiantaria tentar fugir. O som era semelhante à centenas de jatos ganhando velocidade para decolar... Quando ela tirou minha visão do sol à meio céu, eu sabia que era o fim. E era mesmo, o fim de muitas coisas. Primeiro foi o fim do sonho...Acordei. E mais tarde fui ter consciência que acordei de dois sonhos, pois antes deste , minha vida era um sonho... Um sonho permeado de esperanças materialistas, egoístas e temerárias com relação ao tempo que eu tinha para conquistá-las.
Passaram-se alguns meses, que eu investi na busca de informações a respeito de sonhos, premonições e tudo que eu pudesse relacionar a isso. Já era inverno quando meu amigo Katanga, um exímio desenhista, apareceu em minha casa, na companhia de uma jovem, que faço questão de mencionar seu nome: Sonia... - espero que estejas bem por onde andas, pois deixastes esta oportunidade muito cedo, e também muita saudades aos teus...
Estavam apreensivos e traziam consigo uma fita cassete, que continha uma mensagem que fora gravada por um menino quando tentava gravar um disco da Madona. Eu escutei; era um tanto inaudível, mas alguns trechos mais nítidos, traziam consigo avisos de que em breve as coisas no mundo iam mudar, e que o homem deveria mudar antes. Despreparado e contagiado pela energia emanada desse casal de amigos, calafrios percorriam minha espinha, deixando meus pêlos em pé.
Tratamos de montar um grupo para estudar a situação. Cada um tinha uma missão setorizada, na busca de informações. Comecei a buscar respostas nos livros de Kardec, pois desde criança convivi com essa literatura, pois era a filosofia de minha avó, que transmitiu para minha mãe. Outras fontes foram surgindo: Alziro Zarur, Erick Von Daniken, e outros nem tanto conhecidos. A fonte preferida do Katanga, era o apocalipse...
Havia muita especulação em torno da concepção do “sonho”, que segundo o estudo convencional da psique, tem a função de alívio para o inconsciente, ou seja o inconsciente busca resolver problemas do consciente, quando este sai do laboratório....Não discordo, mas também não generalizo, pois existem outros estágios em que o consciente, se afasta mas não tira os olhos, e este chamamos de desdobramento consciente e semi-consciente.
Existem técnicas multi-milenares, para se chegar ao desdobramento e á partir deste tempo passei á estudar com muito afinco todas as formas possíveis de deixar a “gaiola de carne” sem abandonar a consciência e mal sabia o quanto isso iria favorecer-me em trabalhos futuros e que me levariam para um rumo que como diriam os astrólogos....”estava escrito nas estrelas”.

O grupo cresceu e já tinha algum tempo, quando um dia alguém que meditava ou dormia em uma reunião, subitamente, em sobressalto, disse: Eu vi a maior onda do mundo...Essa história eu já conhecia, mas o que me deixou mais ansioso, foi o fato de outra pessoa dizer: Eu também já vi...Os dois contaram detalhes que pareciam que nós três tínhamos visto o mesmo filme. Onde estava a ligação?
Que importância teria esse sonho, que mais parecia uma visão? Será que já tínhamos vivenciado essa situação em uma outra existência aqui na escola? Será que esta, está por vir...? Ou seria um desses monstros da nossa própria criação.
E o mais intrigante é que na casa que fundamos com intuito mais claro, em 1997, eu encontrei mais 4 ou 5 jovens que contavam o mesmo sonho...Esta casa surgiu com a fome de espiritualização e a vontade de ajuda ao próximo, de um certo grupo dissidente de uma outra casa de grande envergadura, mas que pelo seu método ortodoxo e sistemático, já não era compatível á esse grupo....e mais uma vez se confirma um velho ditado: “ Deus escreve o certo por linhas tortas”.
Talvez, e me contento com isso, este sonho seja uma chamada para aqueles que estão sonhando, dormindo, inertes... Enquanto essa vida passa. E como o choque da onda é muito grande, acorda qualquer um. Acho que acordaria até aquela socialista que vive dizendo que o mundo é tudo que se pode tocar, o resto é sonho...
Ou até meu amigo Bol, que disse que quando, ou se este dia chegar,’’ a prancha tá lá, parafinada e pronta para a última onda”.

1 comment:

Denise said...

Ricardo, cheguei aqui para retribuir tua visita, e aceitei teu convite para ler este texto. Que bom! me encantei com tua forma de escrever, não bastasse o teor da "conversa", interessante e profundo.

Fica a admiração e um bjo, desejando que tenha um ótimo fds.